top of page

Você é o céu, não as nuvens

Você é mais do que seus pensamentos

Imagine que sua mente é como o céu, e seus pensamentos são as nuvens que passam. Nuvens podem ser escuras, pesadas, rápidas ou lentas, mas elas não definem o céu - o céu continua sendo o céu independente do tipo de nuvem que estiver passando agora. Elas simplesmente vem e vão.


Mulher sorrindo


Essa metáfora simples nos ajuda a perceber uma ideia central da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT, do inglês Acceptance and Commitment Therapy): Nós não somos nossos pensamentos.


Ou seja, a ACT propõe um novo jeito de lidar com nossas experiências internas — pensamentos, emoções, memórias — sem lutar contra elas ou se deixar dominar. Ao invés de tentar “consertar” os pensamentos ou fazê-los desaparecerem, a ACT nos convida a mudar a relação que temos com eles.



Por que a luta contra os pensamentos pode ser difícil?

Você já teve a sensação de que quanto mais tentava afastar, ignorar ou argumentar contra um pensamento doloroso, mais ele insistia em ficar na mente? Isso ocorre porque, ao nos engajarmos demais com o conteúdo do pensamento, acabamos mantendo ele em foco — mesmo quando tentamos “vencê-lo”.


Na ACT, falamos em fusão cognitiva: é quando estamos tão conectados aos nossos pensamentos que eles passam a parecer verdades absolutas, quase como se fossem parte de nós, em vez de eventos mentais passageiros.


A proposta da ACT não é eliminar ou substituir esses pensamentos, mas sim mudar a maneira como nos relacionamos com eles — criando mais espaço interno para observar, aceitar e escolher como agir, com base no que realmente importa para nós.



A alternativa da ACT: defusão e aceitação

A ACT e a TCC compartilham bases cognitivas e científicas sólidas. A ACT se diferencia principalmente por seu foco na flexibilidade psicológica e na aceitação como alternativa à modificação direta de conteúdo cognitivo.


Na defusão, ao invés de confrontar as nuvens (pensamentos) ou nos agarrar a elas, a ACT nos convida a nos distanciar um pouco delas e observá-las passar, reconhecendo que são eventos passageiros, não algo definitivo sobre nós. Você não precisa acreditar em tudo que pensa nem deixar de acreditar em algo — pode simplesmente notar o pensamento, como se fosse uma frase no seu rádio interno, sem deixá-lo controlar suas escolhas.


Além disso, a ACT aborda a aceitação — permitir que as emoções difíceis estejam presentes, sem tentar fugir ou controlar. Aceitar não é se resignar, é abrir espaço para a experiência. E o mais surpreendente: quando desistimos de lutar e aceitamos a emoção, o sofrimento causado pela resistência... se reduz.



O que realmente importa?

Se mudar o pensamento não é o foco principal, então o que guia a ACT? A resposta: os valores pessoais. Valores são aquilo que realmente importa para você — a base para uma vida significativa.


A ACT ajuda o paciente a identificar os valores que são realmente importantes para ele e a escolher ações concretas alinhadas a eles, mesmo que pensamentos e emoções difíceis estejam presentes. Isso é chamado de ação comprometida.



Um exemplo prático: lidar com o pensamento “Sou inútil”

  • TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental): o terapeuta trabalha com o paciente para identificar se há alguma distorção ou falha no pensamento, busca evidências para substituí-lo por outro mais realista, e incentiva a ação mesmo que a ansiedade esteja presente.

  • ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso): reconhece que o pensamento “sou inútil” pode estar lá, e tudo bem. Em vez de tentar mudá-lo, ajuda a pessoa a se distanciar dele (“Eu estou tendo o pensamento de que sou inútil”) e perceber que o pensamento não é o paciente, que o paciente pode agir apesar do pensamento, agindo segundo seus valores — como cuidar da família, trabalhar, estudar.



Evidência científica

Muitos estudos científicos apresentam comprovações quanto à eficácia da ACT para demandas como ansiedade, depressão, dor crônica, estresse, entre outras condições. Ela é reconhecida como terapia baseada em evidências pela APA (American Psychological Association) e está sendo cada vez mais usada no mundo todo.



Para refletir

“Posso não controlar todos os meus pensamentos ou emoções, mas posso escolher como responder a eles.”
"Eu posso deixar de me definir pelos meus pensamentos e emoções e escolher me guiar pelos meus valores — construindo uma vida com mais presença e significado para mim."



Conclusão

A ACT não busca questionar os pensamentos e controlar as emoções a todo custo, mas reduzir a luta contra eles. Propõe uma nova forma de viver, onde a pessoa pode perceber que ela é mais do que seus pensamentos e pode decidir como agir diante destes. Assim, a pessoa pode guiar sua vida orientada por seus valores mais do que por pensamentos incômodos.


É um convite para se libertar da guerra contra a mente e escolher uma vida mais rica, plena e significativa.

 
 
 

Comentários


bottom of page